O texto que segue abaixo é assinado por Augusto Azevedo e a avaliação é sua torcenauta Alagoano.
POR QUE SOMOS “POTIGUARIOCAS”.
Há tempos, me intriga a questão de descobrir a origem dessa admiração excessiva que
nós, nordestinos, nutrimos pelos clubes cariocas, excetuando pernambucanos e baianos, por dever de justiça. Particularmente, minha segunda e última pele é cruzmaltina. Mesmo sendo uma derme bem superficial, há esta camada, sim. Perguntava-me, então, como posso torcer por um clube carioca, se não sou carioca, não tenho nenhuma raiz fluminense e, para piorar, sou um natalense bairrista e alucinadamente amante do Mais Querido potiguar?
Sempre achei muito simplistas algumas respostas. Uma, herança familiar, onde nos legara
m esta inclinação “potiguarioca”. Outra, porque não tínhamos canais de TV locais e, portanto, absorvíamos todas as informações advindas somente do “Sul maravilha” (triste é ver que a nossa imprensa ainda hoje valoriza o carioquês). Concordo que tudo isso teve e tem su
a influência , mas, era pouco para aplacar minha inquietude. Todavia, cheguei à minha pessoal e empírica descoberta do porquê de sermos “potiguariocas”.
Série B de 2009. Vasco e ABC F.C., São Januário/RJ. Me vejo diante da TV, frustrado e desapontado com o que a minha derme menor fez com a minha pele primeira. No returno, inverte-se o mando de campo. Estádio Fraqueirão, meu templo, minha casa. Assisto revoltado, irado, este clube carioca, que estranhamente tenho simpatia, abater o meu ABC. Pirei. Indaguei-me como podia torcer, também, por outro clube, e um clube que estava me trazendo infelicidade?
Descobri, assim, que só torcemos por “eles”, porque “eles” não competem conosco de maneira sistemática. Historicamente, raramente nos confrontamos. Às vezes, numa Copa do Brasil, ou, num sazonal rebaixamento de um “deles”, e só. Nem no antigo campeonato nacional, quando sempre estávamos na elite, havia o confronto de todos contra todos. Então, natural que aqueles que não nos agridem amiudemente, só raramente, não sejam objeto do nosso alvo inimigo. Ao contrário, acabamos por adotar um “deles”, para as competições que quase nunca, ou nunca, participamos.
Entendi, enfim, porque gaúchos, mineiros, pernambucanos e etc., até os cariocas, gozam com nossa dupla face. Como poderia um gremista, cruzeirense, palmeirense, sportista torcer por cariocas, se eles se digladiam anualmente? Impossível torcer por adversários contumazes. Nós, não. “Eles”, os cariocas, continuarão sem nos enfrentar em 2010. E, aí, pelas TVs, de novo, revitalizam-se as dermes “potiguariocas”.
Desejo que, cada vez mais, sejamos mais potiguares e bem menos “potchiguares”, ou melhor, “potchiguariocas”. Que todos nós, até mesmo a nossa imprensa, nos ajudem mais a vermos o preto, o branco, o verde, o vermelho, de matrizes puramente nordestinas e sem maiores sotaques. Daqui de nós, mesmos.
Só acrescentando, eu diria que é um bom texto, só faltou observar que os 'nordestchinos' que têm derme, bem como epiderme 'sudestchina', são vítimas da alienação Global, que quer, porque quer, transformar nordestinos em robôs programados pra dizer: "Minha derme/epiderme é Mengão, enquanto que meus 'miolô' fazem Plim-Plim e eu canto todo dia, durante o 'banhe'..."A televisão me deixou burro, muito burro demais"