Eduardo Baptista cita atletas com leitura de jogo acima da média: "Felipe Melo e Ronaldinho"

 Foto: Ailton Cruz/Gazeta de Alagoas

Um assunto que se destaca no debate sobre o futebol é a inteligência tática. Até que ponto atletas com boa leitura de jogo podem fazer a diferença dentro de um elenco.

O GloboEsporte.com conversou sobre este assunto com Eduardo Baptista, técnico do CSA. Para ele, a inteligência tática deve ser ensinada ainda na formação dos jogadores.

Essa consciência tática passa muito pela questão cultural.

- Eu trabalhei no Japão seis anos e meus jogadores lá cursavam faculdade pela manhã e, à tarde, eles tinham que treinar. Então imagina o perfil desses jogadores: altamente questionadores.

- A gente ainda recebe jogadores que vêm de uma condição financeira ruim, sem educação, sem poder de concentração... Então envolve muito a educação. É por isso que a base hoje não é só ter um campinho e jogá-los lá.

Com a experiência de ter comandado grandes times do futebol brasileiro, como Palmeiras, Athletico, Coritiba, Fluminense e Sport, Baptista citou alguns jogadores acima da média quando o tema é leitura de jogo.

- Uendell, volante do Cruzeiro, jogou comigo no Sport e na Ponte Preta. O Felipe Melo é de uma inteligência absurda; Diego Souza é um cara que você fala e entende, não precisa falar duas vezes. O Ronaldinho Gaúcho é absurdo. É o típico do cara que tem o dom. É um cara que eu tinha muito cuidado com o que ia falar para não podar o jogador. É de uma genialidade... Você não pode botar regras pra um cara desse. Aqui no CSA temos o Renatinho, que é um menino que tem uma leitura, ele discute muito aqui nos treinamentos; o Pimpão também tem uma leitura muito boa - disse Baptista, de 48 anos.

Segundo Baptista, a situação no Brasil está evoluindo com o investimento nas categorias de base.

- A gente, de uns anos pra cá, teve uma evolução nas categorias de base muito boa, uma qualificação no trabalho dos treinadores, da própria infraestrutura que os clubes têm na base, e preparam muito isso. A velocidade que eles recebem essa informação e põem em prática é bem mais rápida do que há 20 anos.

De acordo com o técnico, inteligência tática tem muito de ensino, mas há um fator específico que faz a diferença para os atletas entenderem as funções em campo.

- A inteligência tática tem também um pouco do dom do jogador. Eu tive oportunidade de trabalhar com jogadores que tinham dom, era deles. Eu até me pego muito para não podar esse tipo de jogador. Em alguns casos, você tem que desenhar o caminho pra o jogador percorrer. Outros têm uma leitura que você desenha até a página 3; na página 4 ele quem vai construir. Às vezes, ele tem uma solução melhor que a tua - comentou o treinador, antes de fazer um alerta.

- É importante você detectar esses jogadores [diferenciados] no elenco para não podá-los. É você deixar um caminho aberto para que ele crie. É deixar a criatividade e o talento fazerem parte da rotina dele.

NM com Denison Roma